terça-feira, 3 de outubro de 2023

O aumento da densidade populacional intensificou ações antrópicas que acelera os feitos das mudanças climáticas no rio Mansoa.

Contribuir para o aumento da consciência ambiental da população de vale do rio Mansoa e não só, a fim de construir uma sociedade ecologicamente responsável, economicamente viável, culturalmente diversificada e socialmente justa a Organização para Defesa e Desenvolvimento das Zonas Húmidas (ODZH) realiza torneio de futebol.

A atividade insere-se no âmbito da comemoração da segunda jornada Mundial anual de aves migratórias sob lema água e sua importância para as aves migratórias.

Foi escolhido região norte concretamente Mansoa pela sua importância ecológica.

Os habitats do Vale do rio Mansoa têm recebido especial atenção por servir de abrigo e de zona de alimentação de diversas espécies de aves aquáticas migradoras usuárias da região de Oio. Os trabalhos feitos que visavam compreender a situação ecológica destes sítios levaram a que o reconhecimento internacional da sua importância seja uma realidade. Graças ao empenho de vários técnicos nacionais e internacionais ao longo de vários anos foi possível descrever 81 espécies de aves aquáticas que usam as bolanhas do rio Mansoa em intervalos de espaço temporal diferenciados explorando os diferentes nichos ecológicos.

Por ser o Vale do rio Mansoa uma zona de grande potencial para a rizicultura, torna-se consequência, rica em avifauna que se associa à atividades humanas ligadas a produção de arroz, localizadas nas duas margens do Rio Mansoa. As populações desenvolvem diferentes tipos de atividades, de entre as principais destaca-se a rizicultura no solo de mangal, cuja expansão tem impactos espacial sobre a floresta do mangal. O mangal como habitats e bolanhas como áreas de produção de arroz, servem como áreas de alimentação, reprodução e repouso de diversas espécies de avifauna usuárias de região, principalmente na zona de Patche Ialá, Untché e Ntchugal. Já que, na zona de Jugudul, Cussana e Cussentche na margem esquerda (sul) do Vale do rio Mansoa foi fortemente impactada pela supressão do ecossistema do mangal. O impacto de atividades humanas no mangal na zona sul está associado ao aumento da densidade populacional, consequência das atividades antrópicas nas zonas adjacentes ou nas bordas do vale, pressão que se intensificou, acelerando os feitos das mudanças climáticas nas bolanhas da região. 

Essas alterações estão tornando cada vez mais visíveis pelo assoreamento dos canais que se tornam, em algumas zonas desse vale quase ou completamente preenchidas pelos sedimentos e com pouca capacidade de escoamento ou de drenagem da água pluvial, não permitindo a entrada da água salgada mais para a montante. E ainda, associado a poucas chuvas, características das últimas décadas na Guiné-Bissau, em particular na região norte e leste, as comunidades humanas da região têm-se adaptado a formas de uso de recursos diversificadas, adaptando-se às disponibilidades e ao momento do mercado, como mecanismo de resiliência às mudanças climáticas.

E apesar de continuar a intensificar os impactos sobre habitats costeiros, com consequências no assoreamento do vale, que favorece o aparecimento de outros tipos de vegetação, e de ervas daninhas que minam o exercício de agricultura de arroz do solo de mangal de Jugudul, Cussana e Cussentche.

O consequente abandono dessas bolanhas pelos agricultores tradicionais favorece também o uso da região pelas espécies mais adaptadas a presença da água doce e de locais cheias de vegetação de herbáceas.

Já na parte norte e noroeste com mais ecossistema do mangal e melhores condições de drenagem de canais, as comunidades direcionam as suas atividades à disponibilidade dos recursos do mar, pesca de pequenos peixes, recolha de crustáceos e exploração da lenha do mangal e muito pouco produtos florestais não lenhosos e lenhosos. Com base nisso, podemos afirmar que as populações do Norte e do Sul do vale optam por um diferencial de uso, direcional as suas formas de exploração de recursos naturais.

Assim sendo, as comunidades do Noroeste e Norte estão voltadas para a rizicultura do solo do mangal e exploração dos recursos desse ecossistema, tais como cacres, peixes e horticultura durante época seca, associada à pecuária tradicional. As comunidades do Nordeste como Jugudul, Cussana e Cussentche estão mais direcionadas as atividades de exploração dos recursos florestais (lenhosos e não lenhosos) e mineração. Em abas zonas as comunidades exploram caju de forma extensiva, o que está a reduzir drasticamente as superfícies do coberto florestal original da região. Esta pressão sobre florestas começa a ter os seus efeitos na diminuição da disponibilidade de lenha, carvão e produtos florestais não lenhosos como fole, cabeceira, veludo, inhame e outros, e consequente, inclusive no potencial pecuário tradicional.

O torneio de futebol entre as comunidades de Mansoa e arredores é organizado neste sentido com um meio de facilitar a comunicação e a sensibilização dos jovens para que estas áreas se tornem uma reserva comunitária num futuro próximo. Serve igualmente de boa oportunidade para reunir as pessoas e sensibilizá-las sobre a importância das aves presentes nestas áreas, bem como sobre a importância da conservação da natureza.


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