segunda-feira, 21 de setembro de 2020
CONTRATOS DE GESTÃO E DE APROVEITAMENTO FLORESTAL
Continuidade.
quinta-feira, 10 de setembro de 2020
Histórico e Contexto Geral do Sector Florestal na Guiné-Bissau parte II
Continuidade
SOBRE DIAGNÓSTICO DO SECTOR FLORESTAL FEITO PELA TINIGUENA.
O crescimento exponencial da população, está na origem do aumento da procura de material lenhoso - nomeadamente da lenha nos meios rurais e do carvão, nos centros urbanos, como a principal fonte de energia doméstica,- e no grande desenvolvimento/aumento da frente agrícola fortemente marcado pelo sistema de agricultura de planalto, agricultura itinerante - corte e queima - e, por um aumento anárquico de plantações de cajueiros, são das principais causas da degradação do coberto florestal na Guiné-Bissau, e em especial, da madeira para exportação e indústrias nacionais, igualmente por outro lado, a procura de matéria-prima para as industrias nacionais (mobiliário, construção civil, etc.), a procura de produtos acabados no mercado domestico e finalmente a grande procura do mercado sub-regional e internacional de determinados produtos florestais e no nosso caso respetivamente, o carvão e a madeira e em especial o Pau de sangue, tem levado à uma exploração desenfreada, descontrolada e abusiva das florestas A procura constante de novas terras para as produções agrícolas, em especial a expansão da cultura do caju de há algum tempo a esta parte, estão muito relacionados com a desmatação e queimadas e, com a substituição das florestas originais naturais pela monocultura do caju. À estes factos, podemos ainda associar os efeitos das queimadas muito frequentes no quadro de regeneração de novas pastagens, para as actividades de caça, para apicultura, etc. Em resumo estes fatores aliados à fatores naturais (escassez de água/seca, sahelização, efeitos das alterações climáticas, etc.) têm contribuído para uma significativa redução e mudança do coberto vegetal que está a evoluir de florestas mais húmidas e/ou secas densas e altas para florestas secas raras e savanas. Factores de ordem institucional e jurídico-regulamentares estão igualmente na base do fraco desempenho das estruturas de gestão do sector florestal. Pois pode-se acrescentar aos factos acima mencionados, a grande fragilidade institucional da Direcção Geral de Floresta e Fauna, a qual se acrescenta a ausência total de investimentos no sector, a fuga dos quadros especializados e mais experimentados, já de si exíguo, para outras instituições. Aliás esta situação Salienta-se igualmente neste contexto, as reformas inconclusivas do sector da defesa e de segurança que originou a passagem do Corpo de Guardas Florestais que pertenciam a Direção Geral das Florestas para a Guarda Nacional (GN)1 . Esta “reforma” transfere a competência da fiscalização dos ilícitos do sector florestal para esta nova estrutura da Guarda Nacional (GN) a Brigada de Proteção de Natureza e Ambiente, estrutura per si com muitas fraquezas técnicas mas que, num contexto de instabilidade político-militar resultante do golpe de estado de Abril de 2012, passou a ditar os procedimentos, os mecanismos de gestão e exploração do sector florestal, a qual teve por base uma perspetiva cada vez mais repressiva, mercantil muito infestada de atos de corrupção, levando às consequências experimentadas posteriormente neste sector durante o período em análise. Esta nova perspetiva comercial e mercantil subverteu e muito os procedimentos legais criando uma anarquia total em termos sobretudo de exploração e de gestão dos recursos florestais com evidentes situações de suborno e aliciamento generalizado à quase todos os níveis das estruturas de gestão do sector florestal, ao nível central na DGFF até ao nível das regiões, das Delegacias Florestais e dos que deveriam fiscalizar os atos ilícitos. Estes novos procedimentos, levaram à contornos flagrantes da Lei Florestal. Aliás, é na base deste procedimento que os troncos passaram a ser sachados e considerados “madeira transformada”, que ao nosso ver, embora sachados continuam a ser troncos, cuja exportação está e continua a ser proibida (Art. 18, n.º 1, Dec. Lei n.º 5/2011), mas que, subvertendo a Lei, passaram a ser drenados, vendidos e até exportados como madeira transformada e com certificados de origem - documento obrigatório para a exportação de madeira - passados pelo Direção Geral das Florestas e Fauna que é a única entidade que em termos legais detém esta atribuição/prerrogativa. No Artº. 17 da Lei Florestal em vigor, diz que, a “Proibição do abate, recolha e transporte de produtos florestais do pôr ao nascer do sol. Toda a atividade que vise em geral o abate, recolha ou a captura dos recursos que integram o domínio florestal, nomeadamente o abate de árvores, de espécies faunísticas e cinegéticas, corte de madeira bem como a recolha e respetivo transporte, é proibida do pôr ao nascer do sol, salvo autorização especial e devidamente fundamentada da DGFF”. Entretanto e apesar desta proibição na Lei, no período de 2012/2014, a maioria da madeira drenada para o Porto de Bissau, foi feita de noite e muitas vezes, escoltados por elementos da Guarda Nacional e das Forças Armadas fardados o que pressupões conivências de indivíduos ligados à essas instituições. Da gestão da exploração florestal por conceções florestais geridas por empresas madeireiras, passou para uma situação em que, cada um que pudesse comprar ou alugar um moto-serra, poderia obter uma autorização/“licença” não de corte, mas sim, “licença de drenagem ou de desmatação” mas que entretanto são utilizadas para abater árvores e serrar madeira em plena floresta desde que, tivessem a proteção de alguém bem posicionado nas estruturas de comando da GN ou Forças Armadas, contornando assim todas as disposições legais que atribuem exclusividade de corte às empresas madeireiras com serrações instaladas. Alguns titulares de concessões, alegando possuírem CONTRATOS DE GESTÃO E DE APROVEITAMENTO FLORESTAL apesar de não terem cumprido com todas as disposições legais (Caderno de Encargos, Plano de Ordenamento para a área a explorar, Licença Ambiental, Garantias Financeiras, etc.), utilizaram esse hipotético contrato para contarem indiscriminadamente e muitas vezes fora das concessões em quase todo o território nacional2 ..
segunda-feira, 7 de setembro de 2020
Histórico e Contexto Geral do Sector Florestal na Guiné-Bissau.
Continuidade
SOBRE DIAGNÓSTICO DO SECTOR FLORESTAL FEITO PELA TINIGUENA.
Historicamente, as secas verificadas nos anos setenta (70) e oitenta (80), isto é no período pós- independência, estiveram na origem de medidas consequentes para a conservação dos recursos florestas guineenses, pois que, demonstraram a necessidade de definir estratégias e políticas para o sector florestal, as quais basearam-se em estudos técnicos e científicos à salientar neste particular, a importância dos inventários florestais nacionais realizados em 1978 e 1985. Entretanto estas medidas não tiveram continuidade. Entenda-se que, um inventário florestal nacional é um inventário extensivo, que visa obter informações qualitativas e quantitativas dos recursos existentes, e que cobrem todo o território nacional/país, e tem como objetivo principal a obtenção de informações de base para a definição de políticas florestais, para a administração florestal do país e para a elaboração de planos de desenvolvimento e de uso das florestas tais como, a viabilidade para instalação de indústrias do setor, uso alternativo do solo, etc. Dessa época resultaram os estudos tendentes a organizar o sector florestal (Ex.: SCET- Internacional 1978 & Atlanta Consult 1985). O primeiro estudo realizado o do SCT, procurou definir o potencial da produção agrária e da produção florestal em particular e em consequência, as quantidades racional e sustentavelmente exploráveis, assim como, a capacidade de exploração e de transformação a instalar, ou seja, os números de serrações que devem ser autorizadas. Este estudo exaustivo do SCET apontavam para 2.250.100 ha e a de Atlanta Consult 1985, apontava para 2.034.000 ha de superfície florestal nacional.
Quadro N.º_1_: Tabela comparativa das superfícies florestais dos últimos dois inventários florestais Scet-International - 1978 era de 2.250.100 (ha), no inventario da Atlanta Consult de 1985 eram já 2.034.284 (ha) a Diferença é de 215.816 (ha). Fonte: GDFF- Documento de Política de Desenvolvimento Florestal – 2010.
De referir de que, os dados comparativos dos dois Inventários Florestais Nacionais no quadro acima, não incluem dados sobre mangais e palmeiras. Salienta-se igualmente que, esses dois inventários apesar de terem sido dos mais exaustivos realizados na Guiné-Bissau, fornecem exclusivamente dados globais sobre o potencial lenhoso em pé, sem no entanto confinarem essas dadas às espécies mais procuradas no mercado (comercializáveis) e tipos de formações florestais existentes. Entretanto, em termos técnico- científicos, os dados sobre as frequências e sobre os volumes por espécies e por categoria de corte ou seja a estrutura dos povoamentos, são indispensáveis para uma boa planificação e gestão das diferentes formações florestais existentes nas regiões e sectores do país. A comparação dos resultados desses dois últimos inventários florestal, apontam para um decrescimento de cerca de 215.816 ha, ou seja cerca de 9.6 % da superfície florestal nacional em apenas 7 anos, isto sem contar com o processo de transformação da estrutura do coberto vegetal de florestas mais densas e húmidas para as florestas mais raras e secas, e a grande extensão de florestas degradas e/ou fragmentadas. Os resultados desses inventários, já de si, com muitas lacunas são hoje mais do que caducos, mesmo assim, continuam a ser utilizados como instrumentos de planificação do sector e em especial na determinação do potencial de corte e na concessão de licenças como sendo dados atuais e representativos do estado atual das nossas florestas. Em consequência, o volume de corte anualmente licenciado ultrapassa as capacidades de regeneração e produção das florestas. Ou sejam, estes volumes ultrapassam de longe a capacidade máxima e sustentável de extração porque, os dados de base utilizados nos processos decisionais inerentes, já não 10 correspondem a realidade atual, pelo que, a consequência logica é a degradação e a fragmentação progressiva das florestas naturais. Decorridos 31 anos depois, sem que tenha sido feita nenhuma avaliação do potencial florestal, e tendo em conta os dados referentes à taxa de desflorestação e depois de que aconteceu no período 2012 a 2014, continuamos a admitir que, ainda dispomos de uma superfície florestal de 2.030.284 ha. As florestas para além do seu valor intrínseco, possuem outros múltiplos valores sociais, económicos, importantes funções ecológicas e de proteção dos solos e das bacias hidrográficas, na regulação do ciclo hidrológico, até o seu valor económico pecuniário e não pecuniário dos numerosos produtos que se podem extrair das florestas. As florestas e as actividades que lhes estão associadas, têm um elevado potencial na melhoria das condições de vida das populações rurais em especial e na gestão e impulsão do desenvolvimento económico, graças às fortes relações intersectoriais que as caracterizam. Para muitos, as florestas constituem o seu sustento, abastecendo-os de plantas comestíveis e medicinais, de carne de animais silvestres, frutas, mel, refúgio, lenha e carvão como principal fonte de energia doméstica e de vários outros produtos, em torno do qual, erigem os seus valores culturais e espirituais. Para além dos produtos lenhosos e não lenhosos, a floresta ainda tem outras nobres funções como as de suportar a vida pois, conservam e reproduzem a fertilidade dos solos, o ciclo de água, de carbono e de oxigénio, o que está na origem da manutenção da produtividade agrícola, contribui para a manutenção das bacias hidrográficas e na reprodução dos recursos haliêuticos. Além do mais, a floresta, ou seja as florestas sagradas, têm um papel muito fundamental na reprodução social das comunidades étnicas, nomeadamente como sítio de iniciação, de transmissão de conhecimento e de empoderamento de práticas, saberes e hábitos que tornam o individuo como uma entidade com direito na sua respetiva comunidade. A escala mundial, as florestas desempenham um papel crucial na regularização do clima, do ciclo hidrológico e constituem um dos principais sumidouros de carbono do Planeta. A sua conservação, impede portanto, o aumento do efeito estufa e consequentemente a manutenção da qualidade de vida das populações. Mas também, nos casos específicos como os da Guiné- Bissau, conferem resiliência aos sistemas sociais e naturais em relação as mudanças climáticas e os seus impactos. A grande superfície do mangal e a dinâmica que o caracteriza este tipo de formação vegetal afirma-o como um dos mecanismos naturais mais efetivos de proteção da zona costeira contra a subida do mar e a erosão costeira e também como uma zona de produção biológica que sustenta através da cadeia alimentar, a reprodução dos recursos haliêuticos. No interior continental as florestas de galerias, secas e semi-secas contribuem para amenizar o clima e servem de habitats a grande diversidade de espécies terrestres e florestais. As florestas garantem o necessário equilíbrio ecológico e por isso, ela é cada vez mais reconhecida como um espaço de importância fundamental para a manutenção dos valores naturais, para a segurança alimentar e para a melhoria da qualidade de vida das populações. Apesar das suas funções ecológicas e socioeconómicas as florestas são objecto de pressões variadas. Em muitos países menos desenvolvidos como é o nosso, as florestas têm sido utilizadas, primeiramente para a subsistência das necessidades das populações e também para satisfazer as diferentes procuras interna, quase sempre limitadas a produtos de baixo valor acrescentado mas, de elevado valor social como é o caso da lenha e do carvão vegetal, enquanto principal fonte de energia doméstica da maioria das populações desses países menos desenvolvidos.
sexta-feira, 4 de setembro de 2020
Breves dados sobre a Guiné-Bissau
CONTINUIDADE SOBRE DIAGNÓSTICO DO SECTOR FLORESTAL FEITO PELA TINIGUENA.
A grande maioria da nossa população que mais precisa da floresta e dos seus produtos, vive na pobreza. O ILAP 2 indica que 69,3% dos guineenses são pobres e 33% são extremamente pobres (DENARP II, 2011). Ainda segundo a mesma fonte, a aceleração da pobreza atingiu tanto a população feminina como a masculina, sendo as mulheres mais pobres do que os homens.
No que concerne a pobreza absoluta ou seja, viver com menos de 2$US/dia/pessoa (2 dólares/dia/pessoa), a proporção é de 56,3 % para Bissau e 70 % para as regiões, para mulheres chefe de agregado familiar é de 48,8 % e para homens chefe de agregado familiar é de 76,5 %.
Quanto a pobreza extrema, pessoas com rendimentos inferior a 1$US/dia/pessoa (1dólares/dia/pessoa) proporção é a seguinte, mulheres chefes de agregados familiar em Bissau, de 15,5% e mulheres chefes de agregados familiar no interior 38,7% e para homens chefes de agregados familiar em Bissau, 12,2% e para homens chefes de agregado familiar nas regiões 40,0 %. De uma forma muito resumida, dá para entender que esta tendência da evolução negativa da pobreza na Guiné-Bissau entre 2002 e 2010 ainda persiste aliás, agravou-se nesse período senão vejamos, a pobreza em Bissau manteve-se constante 51 % enquanto que se agravou nas outras regiões em que 3 em 4 pessoas eram extremamente pobres em 2010, contra 7 em 10 pessoas em 2002, uma situação muito preocupante e que vem confirmar a tese de que a pobreza, esteve sempre na base da forte pressão sobre os recursos naturais e recursos florestais em particular.