segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

A globalização provocou um enorme aumento na velocidade e no volume do tráfego de mercadorias e de viajantes, mas também de patógenos e de seus hóspedes animais

O contrabando de animais é um negócio que movimentou, em 2019, 107 bilhões de euros e 24% das espécies de vertebrados, representando uma das principais causas da perda de biodiversidade em nível global, já que este mercado se retroalimenta com o desmatamento. A tendência global de urbanização, assim como sua expansão em detrimento das matas, aumenta não só a probabilidade de contagiar e ser contagiado, como também a exposição aos animais selvagens. A receita perfeita para uma pandemia global.

Longe de teorias conspiratórias sobre a criação artificial de uma arma biológica em forma de vírus, que não se sustentam, no sudeste asiático, todos estes fatores seguem atuando conjuntamente, há muito tempo, e posicionam um mercado de animais vivos como o cenário mais provável onde ocorreu a primeira infecção por SARS-CoV-2. Por que estas teorias não se sustentam? Dito de um modo popular, porque a natureza é mais velha que a ciência, o que significa que também é mais inteligente.

Segundo um estudo científico que discute as diferentes hipóteses sobre a origem do vírus, “é improvável que o SARS-CoV-2 tenha nascido de uma manipulação, em um laboratório, de um coronavírus causador da Síndrome Respiratória Aguda Grave”, porque a proteína do vírus que se une a um receptor celular humano está otimizada de tal modo que nem sequer pode ser prevista pelas simulações informáticas que recriam todas as possíveis modificações genéticas que poderiam ser realizadas para fabricá-la.

Sendo assim, as hipóteses mais plausíveis se baseiam na seleção natural do vírus. De um ou de vários hóspedes animais prévios à zoonose ou da seleção natural do vírus em humanos. Existe evidência de que seus hospedeiros primários são morcegos, já que estes constituem um reservatório natural de uma grande variedade de coronavírus. Ao sequenciar o genoma do morcego Rhinolophus affinis, descobriu-se um coronavírus que é 96,2% semelhante geneticamente ao SARS-CoV-2 (causador da Covid-19) e 80% semelhante ao SARS-CoV que provocou a epidemia de 2002 na China.

No Mercado de Huanan, em Wuhan (China), eram vendidos animais selvagens vivos (entre eles os morcegos) e em alguns casos exóticos, razão pela qual é muito provável que pudessem afetar outros animais no processo para acabar saltando aos humanos.

Outro fato que apoia esta hipótese é que o estresse sofrido por estes animais aumenta a probabilidade de adoecer e transmitir a doença, ao se fragilizar seu sistema imune. Até agora não é possível reconstruir 100% a história, mas entre os hóspedes intermediários estimados como possibilidades estão as serpentes e os pangolins.

Em definitivo, as crises sanitária, climática e ecológica estão intimamente relacionadas e se explicam em boa medida por um sistema capitalista que gira em torno do crescimento econômico constante, em um planeta com recursos finitos, encontrando os limites de suas próprias dinâmicas.

Parece existir um paralelismo com a pandemia da Peste Negra, mas, neste caso, a mudança de mentalidade deve resultar em um maior respeito à natureza. A Terra está enviando sinais para mudar nossa maneira de nos relacionarmos com ela.

fonte:

EcoDebate

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