foto de casas amostra para as comunidades à reassentar em Farim |
Entretanto, apesar de várias explicações que as comunidades já receberam sobre os motivos e as vantagens de exploração de minas e da necessidade de serem retiradas das cinco tabancas, o certo é que a problemática do reassentamento populacional (transferência para novos acampamentos) ainda representa um bicho-de-sete-cabeças para essas populações, devido a complexidade desse processo e o seu relacionamento directo com os riscos de alterações profundas da configuração geográfica do espaço vital dos moradores, das suas condições materiais, sociais, culturais e religiosas (o património social, material e imaterial) e dos factores de existência e de sobrevivência das famílias que forem atingidas.
foto da conferencia |
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O
processo de reassentamento em Farim vai ser experimentado pela primeira vez na
história da Guiné-Bissau, numa fase em que ainda não existia nenhuma legislação
que oriente juridicamente as formas como as transferências das famílias devem
ser feitas nas suas diferentes vertentes.
·
No
noroeste da Região de Cacheu, a prospecção e exploração experimental das areias
pesadas em Varela e arredores criou expectativas e, entre 2016 a 2018, gerou
tensões entre as empresas e as comunidades locais, devido às incertezas sobre
os impactos na vida e no futuro desses habitantes;
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No
leste do país, o anúncio de intenções de futura exploração de bauxite em Boé
também mexeu com as expectativas e inquietações das comunidades e das entidades
de conservação do meio ambiente e da biodiversidade no local;
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Um
pouco por algumas partes do país, decorrem actividades e vislumbram-se planos e
desenhos de futuros projetos de atividades e empreendimentos económicas de desenvolvimento
de grande envergadura não só para a exploração de minérios, mas também de
naturezas hidroeléctricas, rodoviárias e/ou ferroviárias, agro-industriais e
demais actividades, que podem obrigar ao deslocamento de numerosas famílias
para outros territórios. Estes desafios presentes e futuros apelam à
responsabilidade de engajamento participativo de diferentes atores dos sectores
público, privado e da sociedade civil, na busca de soluções mais justas e
equilibradas aos interesses da nação e de todos.
·
Os casos de 2
comunidades com posições radicais que recusaram mudar de território com ameaças
supersticiosas e que, por isso, e como retaliação das autoridades e das
empresas, foram abandonadas:
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As duas
comunidades de Gad-Ngomene e Tobene estão localizadas na zona de exploração de
minério de fosfato de M´boro, Thiès, no Senegal foram objecto de uma visita de
reconhecimento pelas organizações da sociedade civil guineenses, em Fevereiro
de 2019, organizada pela Tiniguena.
· Recusaram sair das suas povoações desde os anos 60 (os primórdios da independência, de um estado caracterizado por autoritarismo e exclusão dos direitos dos camponeses). Não beneficiaram de nenhumas infra-estruturas habitacionais, escolares, sanitárias e nem de água potável, porque não chegaram a ser transferidas para lado algum, devido a ignorância da problemática e dos procedimentos do reassentamento obrigatório em consequência da exploração mineira e ao consequente radicalismo de posição. Atualmente vivem no abandono, na pobreza, no drama e sob a poluição da poeira de fosfato, porque não existe regulamento sobre o reassentamento no Senegal. Foram as empresas mineiras que negociaram e impuseram as condições que estavam ao seu alcance.
Os relatos das populações dão conta que, nos
primeiros anos da independência do Senegal, houve tentativa de negociação entre
os habitantes de Ngad-Ngomene e Tobene. Mas não havia Organizações da Sociedade
Civil para apoiar as comunidades nos aspetos da organização associativa e de
conhecimentos adequados, a fim de estas poderem enfrentar as decisões do Estado
e os interesses das empresas estrangeiras. Por isso, as comunidades de
Ngad-Ngomene e de Tobene foram vítimas. Quando receberam a ordem do Estado para
abandonarem as suas terras, recusaram e radicalizaram as suas posições perante
a ausência de negociações credíveis e propostas alternativas satisfatórias de
indemnização dos prejuízos e, mesmo assim, o Estado e as empresas fizeram valer
o seu contrato, de efetuarem escavações em todo o espaço da existência do
mineral, encurralado (bloqueando) o espaço habitacional e isolando os habitantes
do resto das povoações (salvo uma estrada de entradas e saídas). A justificação
é da recusa dos seus habitantes em serem evacuadas na altura naquele tempo do
início da independência.
Ao longo de quase seis dezenas de anos, as famílias
e crianças estão na pobreza absoluta, e transformaram-se em laboratório de
exibição de mau exemplo e de maior insucesso das relações entre as empresas
mineiras, o Estado e a comunidade. Habitantes sujeitas às contaminações e
doenças tóxicas e de abortos femininos, falta de terras para cultivar e condenadas
à fuga ou à morte lenta. A vida em Gad-Ngomene e Tobene no Senegal é uma
ficção. As 2 tabancas são a representação viva de uma espécie de prenda de
tolerância envenenada. Um aviso que o sistema faz para aqueles que venham ousar
recusar a ordem de abandono das terras e das habitações…
Isto é, todos os citadinos que estão a viver nas
duas tabancas, padecem de várias doenças com maior destaque a doença
respiratória. Neste momento o consumo das frutas está causar problemas na saúde
da população, prova disso, um relatório médico indica que maioria da população
localizada nessa tabanca analisada tem mesma doença.
A maioria das mulheres que vivem naquelas tabancas
têm problemas de saúde e alguns já não conseguem engravidar, devido o consumo
de água infetada e quase todos os alimentos estão afectadas devido a poluição,
vento e poeira causada pela empresa.
Esse drama já não aconteceu nos últimos anos às comunidades recém transferidas e reinstaladas, porque as ONGs e as associações camponesas uniram-se e apoiaram as comunidades a fazer as negociações com as empresas mineiras através de processos dirigidos por advogados defensores dos direitos comunitários.
Essas atividades que obrigam o abandono de espaços habituais
e transferência dos habitantes para outro espaço, faz com que a previsão de
mudança do local seja um assunto bastante sério que, desde há duas décadas, tem
criado mais polémica, criando uma mistura de expectativas de esperanças de
melhores condições de vida das populações vítimas, como também motivos de
espantos, inquietações, equívocos e dúvidas sobre a concretização dessas
expectativas e os seus efeitos sobre a vidas das famílias, a médio e longo
prazos.
Tudo isso foi o motivo da tomada desta iniciativa da Tiniguena de patrocinar a elaboração desta proposta de regulamentação do sub-domínio de reassentamento populacional na Guiné-Bissau.
O
regulamento a ser apresentado foi o resultado de várias auscultações individuais e
colectivas iniciadas desde Outubro até Dezembro de 2020, através de uma consultoria
de técnicos nacionais. Fizeram recolhas de dados na capital e em 4 regiões de
incidência das actividades ou perspectivas de actividades que, num futuro
próximo, conduzirão às medidas de deslocamento e reinstalação das comunidades (zonas
de São Domingos-Suzana e Varela; Farim, Bafatá e Boé) e que culminaram com a
elaboração deste documento que vai ser objecto de apresentação, análise e validação
técnica nesta Conferencia Nacional de restituição. É um documento inédito na
história do país, por quanto também são inéditos os casos de deslocamentos e
reinstalação massiva de membros de comunidades (de e para territórios dentro do
país) por motivos de actividades de empresas públicas ou privadas.
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